sexta-feira, 19 de março de 2010

O drama da morte do cartunista Glauco

Eu senti a perda do cartunista Glauco. Desde a minha adolescência até os dias de hoje eu me divertia com as sacadas engraçadas dos personagens como Geraldão, Dona Marta e por aí vai.

Seu homicídio é, como qualquer outro, um rompimento com o amor. Me solidarizo com a tristeza que se abate sobre essa família que desafortunadamente viu despencar sobre seu lar a atrocidade da qual estou tratando.

Mas a dor e o sofrimento de quem fica diante da morte abrupta e violenta do ente querido é reveladora de que a  maior parte dos seres humanos que conheço não acredita, de fato, nas doutrinas religiosas que professam.

Afinal nada na vida é mais esperado do que a morte. Por isso a reverencio: ela única e verdadeira certeza que tenho na vida.

E quem é cristão (seja ele católico, evangélico, espírita ou "santodaimesco") jamais poderia chorar a morte de qualquer pessoa senão por saudades. Ainda que essa morte seja por homicídio. Menos ainda desejar a punição do ofensor.

Afinal, um cristão - presumo - crê em Deus e, nos dizeres de minha falecida avó, "em sua imensa bondade, infinita sabedoria e inesgotável amor para com seus filhos".

Sendo Deus, na visão cristã, um ser ONIPRESENTE, ONIPOTENTE E ONISCIENTE fica claro que ele a tudo conhece e é o único poderoso de modo que TUDO quanto ocorre no mundo é reflexo de sua vontade. Tal como dizem alguns cristãos: "nenhuma folha cai da árvore sem a vontade de Deus".

Quem de fato acredita nisso não pode sequer desejar a prisão daquele que, em última análise, foi mero instrumento de Deus para chegar ao seu desígnio que era o de subtrair a vida de alguém. Esse ofensor não é diferente de uma doença grave ao tirar a vida de um ser. Mesmo para quem acredita em livre arbítrio e que o ofensor responderá por seu pecado diante de Deus, é preciso admitir que Deus consentiu com a violência do ofensor e com o resultado final (morte) caso contrário - com seu máximo poder - teria obstado a injustiça.  

E se esse Deus (em quem o cristão confia e em cujo amor, sabedoria e bondade ele se fulcra) não impediu o ato é sinal o desfecho por ele já conhecido (posto que onisciente) estava em conformidade com seu desejo. Diante disso, não faz sentido a irresignação, o inconformismo e tampouco a vontade de punição daquele que foi mero operador da vontade do "Senhor". Uma vez que seja indiscutível a sua perfeição e seu amor é preciso admitir a morte - mesmo violenta - como um fato bom para todos (inclusive para o falecido), sobretudo porque é incongruente imaginar que um ser todo pleno em amor possa fazer algo que redunde em mal para seus filhos.  Porque é um fato bom e em que ele sera benéfico para todos pode-se dizer que é um mistério da fé, afinal ninguém é capaz de saber o que se passa na cabeça desse Deus. 

É nessa hora que, com olhar frio e distante do problema, podemos refletir sobre verdade subjacente a essas crenças.

Se alguém sofre diante da morte pelo horror da violência e da perda, se deseja "justiça" e se é abatido pelo inconformismo é simplesmente porque não se é perfeito e não se pode, na prática, seguir as próprias crenças ou será que é porque, em verdade, nossa crença é seletiva (se crê quando se entende que é conveniente crer)? 

Serve de ilustração o Padre Marcelo:

    

2 comentários:

  1. É interessante ver as pessoas religiosas chorando a morte de entes queridos, já que a religião foi criada para dar um alento aos seres humanos, tão temerosos da morte. A ideia de uma vida eterna deveria trazer júbilo aos familiares. Ao que parece os crentes não tem tanta fé assim...

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  2. A questão da morte é algo que não encaro com naturalidade, como vc sabe.... a vida é algo muito importante e valioso e para mim o desprendimento sobre este tema (morte) tem que ser trabalhado.

    Vamos ter fé mas nem tanto... depois deste incidente o Padre Marcelo vai nos seguintes dizeres: é melhor previnir do que se fingir de planta...rsrs

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